Como quase toda coletânea, esta descobriu sua unidade a posteriori. Os textos aqui reunidos foram escritos de 2014 a 2022. A maioria, publicada em revistas acadêmicas; parcela considerável serviu de estudo introdutório à reedição de obras brasileiras; outra parte integrou publicações coletivas.
Os ensaios se agrupam em três segmentos, organizados segundo um modo particular de leitura. O primeiro, “Plano fechado”, dedica-se a formas breves, concentrando-se em um único conto ou poema. Em “Plano médio”, a ênfase recai em um só livro de determinado ficcionista ou poeta, transitando entre o detalhe e o todo. A perspectiva panorâmica, devotada ao conjunto de uma obra, embasa o último bloco, “Plano aberto”. Por esse princípio, um mesmo escritor pode comparecer em partes diferentes do livro, atentas a um ângulo diferente da produção examinada.
Em cada um dos Planos, os estudos estão dispostos em ordem cronológica crescente, partindo de autores oitocentistas até chegar ao século XX, sobretudo da primeira metade. Internamente, não há hierarquia senão a temporal: num mesmo segmento, convivem capítulos sobre poesia e ficção, autores e escritoras, canônicos e esquecidos. Quem se dispuser a cruzar o livro inteiro observará questões reincidentes: a sondagem de tensões estéticas em determinado texto, autor ou período; a coexistência da unidade e da fragmentação nas obras; a atenção às dissonâncias entre forma e conteúdo; a relação dos autores com o campo literário e com o conjunto de suas obras; a oscilação entre intimidade e desparticularização, entre grandiloquência e tom menor, dentre outras constantes.
Todos os textos receberam revisão, tanto para corrigir deslizes, quanto para aliviar o jargão acadêmico, e assim ficarem mais palatáveis ao leitor. Embora a profundidade reflexiva seja o horizonte almejado, busquei traduzi-la para além da universidade, procurando estilo comunicativo e, na medida do possível, minimamente saboroso. A ideia é oferecer um conjunto antes de ensaios do que de artigos, no esforço de resgatar o prazer de se ler crítica literária. Outras ambições são trazer a lume nomes desconhecidos, explorar ângulos menos óbvios de textos consagrados e problematizar lugares-comuns sobre certos autores ou épocas, sem necessariamente desabonar investidas anteriores.