A série dos Ensaios de Peter Handke, que começou a ser publicada em 1989, é formada por textos que mesclam memórias, reflexão e invenção literária. Transitando entre a autoficção e o gênero ensaístico, o autor ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 2019 apresenta seu olhar sobre o cotidiano, colocando em evidência a linguagem e o tempo. Em seu Ensaio sobre a jukebox, Handke foge de qualquer cronologia linear e de processos de narrativa convencionais. Por sucessivas sobreposições, o autor compõe uma metafísica da escrita que deságua na leitura de uma realidade que se torna irreal de tão premeditadamente elaborada. A busca do protagonista pela jukebox o leva a vários lugares e períodos e, a cada vez, representa a impossibilidade de abraçar a realidade e de fazer coincidir a vida interna com a experiência do mundo. O autor rege a ópera a partir de sua escrivaninha (tendo como ferramentas apenas papel e lápis) no quarto de hotel em Soria, pequena cidade no interior da Castela espanhola. O embate entre a jukebox e a escrivaninha acaba sendo o real enredo deste ensaio em que Handke abre a caixa de Pandora de sua escrita.